27 março 2009

o silêncio do autor | 3-pbl-20-07 | 2/3

o silêncio do autor

O silêncio do autor
é um compromisso sem prazo,
verdade que a nenhuma outra dá azo
Mas é um soneto de amor
nunca escrito com atraso.

O tempo preocupando-se com a demora
que o teu corpo demora a ser narrado.
A história é um tempo sem passado
nem futuro. É só desta hora,
presente eterno desse teu corpo alado.
Do tempo narrado, cadência sempre acelerada,
há-de constar... absolutamente nada.

O leito em que se deitam os amantes
enregelou-se com a fala que o entulha.
A poesia não é falada, como dantes,
nem repousa em papel branco, em estantes.
O livro que havia foi selado com agulha.
E não sobram versos sofridos, ambiguidade,
nem adjectivos que mostrem mais solenidade.

O silêncio do autor
é a morte anunciada, que já dança,
naufrágio abençoado da confiança.
Mas é um rio fundo desertor
a escoar-se pelo vazio da aliança.

poema by nuno gabriel oliveira

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