31 março 2009

postal dos correios | 3-pbl-20-07 | 3/3

postal dos correios

Na curva perfeita das tuas pernas adivinho toda a beleza do mundo. Tudo é belo, porque não pode ser outra coisa que não belo. As tuas pernas são belíssimas, ponto.

Moves-te com impaciência. Talvez já tenhas descoberto que olho para ti. Levantas-te da cadeira, despedes-te genericamente dos outros, nem olhas para mim, esforças-te por ser – e és! – insuportavelmente discreta, o teu corpo acondiciona-se ao rigor das linhas direitas. (A terra conheceu o pecado quando se vestiu de pudor). Dirão: o belo não se oferece, esconde-se! Para assassinar o bem basta a possibilidade do mal, ponto.

Vulgarizo as tuas pernas reprimidas. No vinco incongruente das calças, ponho as formas rudes da carne velha. No casaco comprido que vestiste à pressa, cabe toda a imperfeição. E afinal, as tuas pernas hão-de ser feias. Vais-te embora, os outros também, permaneço sentado, sozinho. Na cúpula em que todos estamos fechados, não se fazem poemas de amor. E ponto final.
poema by nuno gabriel oliveira

1 comentário:

  1. Desculpa, mas eu tive que voltar atrás e comentar esta parceria fenomenal. Eu amo as obras do 1berto e amo os textos o Gabriel...e este toca-me de uma forma particular, sendo que a adaptação do 1berto está formidável. (E a forma como este texto nasceu...só mesmo vindo deste dois caramelos).
    É muito raro dizer isto, mas sinceramente sou fã destes dois!

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