31 março 2009

postal dos correios | 3-pbl-20-07 | 3/3

postal dos correios

Na curva perfeita das tuas pernas adivinho toda a beleza do mundo. Tudo é belo, porque não pode ser outra coisa que não belo. As tuas pernas são belíssimas, ponto.

Moves-te com impaciência. Talvez já tenhas descoberto que olho para ti. Levantas-te da cadeira, despedes-te genericamente dos outros, nem olhas para mim, esforças-te por ser – e és! – insuportavelmente discreta, o teu corpo acondiciona-se ao rigor das linhas direitas. (A terra conheceu o pecado quando se vestiu de pudor). Dirão: o belo não se oferece, esconde-se! Para assassinar o bem basta a possibilidade do mal, ponto.

Vulgarizo as tuas pernas reprimidas. No vinco incongruente das calças, ponho as formas rudes da carne velha. No casaco comprido que vestiste à pressa, cabe toda a imperfeição. E afinal, as tuas pernas hão-de ser feias. Vais-te embora, os outros também, permaneço sentado, sozinho. Na cúpula em que todos estamos fechados, não se fazem poemas de amor. E ponto final.
poema by nuno gabriel oliveira

27 março 2009

o silêncio do autor | 3-pbl-20-07 | 2/3

o silêncio do autor

O silêncio do autor
é um compromisso sem prazo,
verdade que a nenhuma outra dá azo
Mas é um soneto de amor
nunca escrito com atraso.

O tempo preocupando-se com a demora
que o teu corpo demora a ser narrado.
A história é um tempo sem passado
nem futuro. É só desta hora,
presente eterno desse teu corpo alado.
Do tempo narrado, cadência sempre acelerada,
há-de constar... absolutamente nada.

O leito em que se deitam os amantes
enregelou-se com a fala que o entulha.
A poesia não é falada, como dantes,
nem repousa em papel branco, em estantes.
O livro que havia foi selado com agulha.
E não sobram versos sofridos, ambiguidade,
nem adjectivos que mostrem mais solenidade.

O silêncio do autor
é a morte anunciada, que já dança,
naufrágio abençoado da confiança.
Mas é um rio fundo desertor
a escoar-se pelo vazio da aliança.

poema by nuno gabriel oliveira

25 março 2009

o último café em paris | 3-pbl-20-07 | 1/3

o ultimo café em paris


Estou sozinho, e tu também.
Os rituais frios de hotéis, danças sinistras,
sublinham a rigidez das paredes
- caiadas de neve por fora,
forradas de silêncios, por dentro.
(A Paris Social é um Paraíso de Requinte.
Como o restaurante onde jantámos tão vaidosa refeição,
em que os talheres desfilavam na toalha, abanando as ancas,
em contraste com as árvores despidas, esqueléticas,
pedintes que moram do lado de lá da janela.
Distante agora, que as lembranças sem saudade
fazem maior a opacidade do momento.)
Despimo-nos por fora, que por dentro
pouca nudez tínhamos para mostrar.
Eu por ritual, tu por penitência,
bebemos um café na sala de entrada
que não foi sala de entrada nem de saída,
só corredor de passagem para lugar nenhum.
E afinal, tudo vale precisamente
aquilo que deixarmos que isso valha
.

poema by nuno gabriel oliveira

apresentação | 3-pbl-20-07 | 0/3


o projecto 3-pbl-20-07 foi apresentado no cafécomlivros (k de livro) em out/2007 e abarcou trabalhos de três autores afectos a Pombal. as minhas pinturas e do jorge rosete em conjunto com a escrita de nuno gabriel oliveira procuram revelar experiências e sensações comuns. nesse universo mutável as linhas pintam quadros e as imagens escrevem poemas.


matrícula by rapaz improvisado

3-pbl-20-07 cafécomlivros pombal

23 março 2009

vagueio rente às paredes

pedi a vários amigos para escreverem pequenas histórias para serem adaptadas para bd (a falta de tempo obriga a que alguns desses textos ainda se encontrem na gaveta), “vagueio rente às paredes” é um poema cedido pelo paulo moreiras e encontram-no no seu livro de poesia “DoObscuroOfício”.

20 março 2009

a rapariga com os pés no mundo

concorri com este trabalho ao concurso de banda desenhada de leiria (vírus 2008) as palavras foram retiradas de um poema da marisa.